17/03/2011

Q: Consegues perceber o que se passava com a Dinara hoje? Ela está claramente a sofrer com os efeitos da lesão e da perda de confiança. Parecia que num certo momento ela ia começar a chorar num dos intervalos.
Maria Sharapova: Não reparei nisso. Na verdade pareceu-me que neste torneio ela ia começar a jogar muito melhor. Acho que é para isso que ela tem estado a trabalhar. Ela não tem tido os resultados que deseja ao longo dos últimos dois meses e está a tentar encontrar a sua forma, e acho que este torneio era onde ela ia começar a ganhar mais confiança.
Na verdade, não acho que ela tenha jogado assim tão mal ao longo do encontro.

Q: Que tal a tua forma? Parece que estás a subir de nível a cada ronda.
MS: Sim, pensei que hoje fosse importante. Foi pena que eu não tivesse ganho o primeiro jogo, porque pensei, sabes, quando estive 0-40 no jogo de serviço dela, com um jogo sólido, e falhei aquela bola perto da linha. Mas depois disso, senti que ultrapassei. Pus uma grande pressão em cima dela logo desde a primeira bola, e senti que ela estava na defesa. Isso foi realmente importante.

Q: Esperava a velha Dinara que costumava batalhar contra ti, ou não tinhas a certeza de como a ias encontrar?
MS: Não interessa com quem se está a jogar, tem que se esperar que a nossa adversária vá jogar bom ténis. Tal como disse, este foi um dos primeiros torneios que ela começou a jogar muito melhor e a encontrar a sua forma.
É perigoso porque ela vem para o encontro e a confiança é muito importante.

Q: O Roger disse que está numa diferente fase da carreira, ele não está a jogar com a liberdade que tinha como quando era mais jovem, como se ele tivesse mais a perder agora, como se ele não soubesse o que não sabia quando era jovem. Sentes alguns desses elementos na tua carreira?
MS: Hum, eu tento sempre incentivar-me porque no fundo eu sinto que posso ser melhor, que consigo alcançar mais. Sinto sempre que me dói estando longe do jogo. Eu queria construir naquilo que eu tinha começado no inicio de 2008, onde eu estava a jogar um ténis realmente inacreditável e senti que algo estava a chegar, e eu estava a tentar passar por isso.
E, sim, acho que é -- Acho que toda a gente, é difícil de -- quero dizer, ouvir isso do Roger depois do que ele alcançou, é quase para rir. Acho que toda a gente -- há apenas alguns jogadores que podem dizer isso na posição dele, acho.
Mas, sim, todos estão em diferentes fases das suas vidas. Alguns tornaram-se pais ou mães e outros estão a tentar voltar de lesões. Outros estão a retirar-se e depois a voltar.
Toda a gente se sente diferente. Tudo muda de encontro para encontro. É a beleza do desporto.

Q: No outro dia estavas a falar do quanto o Sasha ama o Basquetebol. Como é que comparas o teu amor pelo ténis com o amor dele pelo Basquetebol ?
MS: Acho que ele gosta mais de treinar do que eu (risos).
Acho que é um facto. Hum, não, acho que amor pelo desporto, é difícil de comparar. Nós somos ambos grandes competidores, e tivemos uma educação semelhante no que toca ao desporto. Quero dizer, da maneira que ele dormiu com os seus primeiros ténis, certamente que eu nunca dormi com os meus. Eu dormi com um par de sapatos de salto alto (risos).

Q: Isso é verdade?
MS: Não, não é verdade, mas é quase verdade.

Q: Já dormiste com uma raquete?
MS: Não, não. É engraçado. Na verdade, vais à minha casa e, honestamente acho que nem ias saber que eu jogo ténis.
Quero dizer, não há coisas do ténis por lá. Até os meus troféus estão bastante escondidos, num armário. Apenas se te sentares na mesa de jantar, onde normalmente -- ninguém se senta. Por isso, a menos que os descubras, acho que ninguém os vê.
Mas, sim, é diferente. Mas, do ponto de vista competitivo, nós somos ambos grandes competidores.

Q: Porque é que na tua casa, tudo o que é relacionado com o ténis, está à parte do resto? Precisas de separar as coisas da tua carreira ou apenas...
MS: Não, apenas não gosto das coisas todas juntas. Nós recebemos tantas coisas quando viajamos, lembranças do ténis e livros. Não sei. Acho que herdei da minha mãe. Ela é muito organizada e esteve sempre tudo muito lindo, e há apenas -- vais à minha casa e não -- Quero dizer, todas as coisas do ténis estão guardadas num roupeiro algures na cave, ou vê-se a minha mala do ténis na garagem.

Q: Não tens...
MS: Vêem-se os quatro pares de skis e a nova bicicleta do meu pai. Deus, que vista que aquilo é às 9 da manhã.

Q: E onde estão os teus troféus? Não os tens cobertos em algum lado?
MS: Não, há uma mesa de jantar e um armário de vidro, e dá para ver se se sentar na mesa de jantar. Mas é um daqueles sítios que é mais para ver.
É uma sala de jantar formal, uma mesa de jantar que -- eu não sei. Quando as pessoas vêm à minha casa, claro eu mostro-lhes os meus troféus, eu não os escondo. Eu não tenho fotografias minhas. Não se vê uma fotografia minha com um troféu de um Grand Slam.

Q: Não há posters gigantes?
MS: Não. A única coisa que tenho no meu quarto são as três raquetes com as quais ganhei os Grand Slams. Elas estão atrás do roupeiro por isso nem se vêem.
E os meus vestidos estão alinhados no meu roupeiro, todos os que eu vesti. Não sei o que fazer com eles, mas isso acontece com quase todas as coisas. É como...

Q: A época do ténis é uma espécie de viagem, tem o seu próprio ritmo, e começa com o Open da Autrália, piso rápido e depois terra batida e por aí adiante. Qual é o teu segmento favorito Pre Wimbledon, Pre US Open, agora, piso rápido da América?
MS: É uma boa pergunta. Eles são bastante diferentes, gosto da frescura do Open da Austrália. Gosto da sensação de que todos estiveram longe e a treinar e a ter férias, e depois vê-se toda a gente e a forma de cada um e como estão a jogar. E depois, o Verão é obviamente o meu favorito quando se passa da terra batida para a relva, embora para mim seja uma viajem longa, e eu esteja na Europa a maior parte do tempo. Não vou a casa neste tempo, e costuma ser um pouco difícil, na viajem.
O que é bom é que se fica numa casa em Wimbledon e tem-se aquela sensação caseira. Isso ajuda muito, e pode-se ter refeições normais e uma espécie de vida normal.

Q: Sentes-te assombrada com o que aconteceu aqui o ano passado?
MS: Aqui?

Q: Não é bem assombrada...
MS: Sim, não é uma palavra muito boa.

Q: Está alguma coisa a assombrar a tua casa?
MS: Não, não.

Q: Voltaste este ano depois de uma coisa estranha, e o mesmo aconteceu o ano passado, tens um pouco mais de receio?
MS: Foi só uma daquelas coisas. O ano passado senti-me realmente bem quando voltei de Memphis. Achei que estava a jogar muito bem uma semana antes de aqui estar, e depois senti alguma coisa na 1º ronda.
Depois, sim, comecei a ficar progressivamente pior na 2º ronda.
Sim, foi decepcionante, porque não se pode fazer nada acerca de contusões ósseas. Apenas tem que se descansar e cura-se sozinho. Foi uma daquelas coisas que, Cá vamos nós outra vez. Não se pode treinar. Vamos fazer mais exercícios de braços. Sim, eu tentei aprender francês durante um tempo.

Q: Até onde chegaste?
MS: Eu pensava que estava a correr bem, até chegar a França e perceber que não estava a correr nada bem. Eu estudei isso quando eu era mais nova, por isso foi fácil de falar, mas gostava de falar francês fluentemente.

Q: No ano em que ganhaste aqui tu disseste, Quando quer que seja que eu acorde e não sinta dores, Estou chocada.
MS: Sim, é verdade.

Q: Foi há 5 anos atrás. Agora é pior? Muito pior? Ou de alguma maneira, o tempo que foste forçada a ficar parada fez-te ficar mais forte a esse respeito?
MS: Não foi apenas -- bastante -- quero dizer, é bastante difícil acordar e não sentir dor nenhuma no corpo. Quando eu digo dor, eu quero dizer em relação à dor nos músculos, ou uma fraqueza, ou mesmo uma dor de cabeça. Não sei.
Na primeira ronda, não tinha jogado por um tempo. Cheguei e joguei durante três horas. Vou sentir alguma coisa no dia seguinte. Não interessa se estou em boa forma. Vou sentir os músculos tensos.
A recuperação é muito grande no nosso desporto. Tenho articulações soltas, por isso é importante que -- Tenho sorte de ter um bom fisioterapeuta, e um que viaje comigo todo o ano e que tenha a certeza que o meu corpo está em boas condições. Desde o aquecimento para a recuperação, é importante.

Q: Para ser rápido, uma coisa que vais provavelmente gostar quando já não jogares ténis, é poder acordar e sentires-te como um ser humano norma. Todos nós acordamos e não sentimos essas dores, todos os dias.
MS: A sério?
O meu pai queixa-se todos os dias das dores.
Uma das coisas de que estou ansiosa -- eu considero a minha vida normal, porque nunca vivi de outra forma. Mas acho que uma das coisas que vou gostar é quando estiver doente e poder ir a farmácia e poder ter qualquer medicamento no balcão sem ter que enviar para o médico da WTA e receber a aprovação. É uma coisa que eu vou -- mesmo sendo Vitamina C.

Q: Que loucura.
MS: É uma coisa de que vou gostar, especialmente quando estou num país estrangeiro.

Q: Estiveste a antibiótico em Moscovo e tiveste que receber a aprovação ?
MS: Estive a três antibióticos.

Q: Mas tiveste que receber uma aprovação para todos eles?
MS: Hum, sim, tive.

Q: E tiveste que esperar? Quanto tempo demorou?
MS: Não, é muito rápido. É a vantagem. É muito rápido. Sim, mas -- eu fiquei doente em Paris mas comecei a senti-lo em Moscovo. Eu não quis tomar antibióticos. Obviamente que não é a melhor coisa.
Depois fui para Paris, e o doutor do torneio veio ao hotel e estiveram a ver -- estiveram no meu quarto por 30 minutos, a olhar para o livro para terem a certeza que -- a pior coisa é o medicamento para a tosse, porque eu acho que a maior parte dos medicamentos para a tosse têm uma espécie de coisa lá.
Por isso tem que se ter muito cuidado. Depois fui para casa e tive que tomar outro antibiótico porque tive uma infecção no ouvido, por isso foi óptimo. Foi maravilhoso. Mas agora está tudo melhor.