15/03/2011

Q: Que T-shirt é essa?
Maria Sharapova: É o 25º ano de Chernobyl.

Q: Parece bastante apropriada a forma como as coisas ocorreram.
MS: É alucinante, certo? Dá para acreditar que houve um desastre há 25 anos atrás? E agora outro? Ouvi que há uma grande nuvem a deslocar-se para a Costa Oeste.

Q: Eles acham que vai se dissipar...
MS: Então o torneio vai continuar (risos)

Q: Nós estamos aqui a falar de esquerdas e por aí a diante, mas o que pensas sobre a situação lá? É numa área de grande interesse para ti.
MS: Sim é. E certamente -- estás a falar do Japão ?

Q: Sim, e da explosão nuclear...
MS: Sim, quero dizer, em relação ao que se está a passar lá, é uma loucura e é algo para qual não se pode estar preparado. Acontece, e vêem-se as notícias e os vídeos e é realmente incrível que algo assim possa acontecer no mundo. Isto abre os teus olhos, e obviamente põe uma grande perspectiva na tua vida. É um país de onde eu tenho muitas e boas memórias. Comecei a jogar lá quando era muito jovem e sempre gostei das minhas experiências lá. Por isso ver o que está acontecer lá, à cultura e às pessoas, é realmente triste.

Q: Chernobyl tem causado um grande impacto na tua própria vida e tu tens feito um trabalho maravilhoso em relação a isso.
MS: Sim.

Q: És um pouco cautelosa em relação à explosão nuclear...
MS: Eu acho, tu sabes, no inicio, o meu trabalho era sensibilizar o mundo e basicamente espalhar a mensagem pelo mundo, porque embora isto tenha acontecido há muitos anos atrás, ainda causa problemas no dia-a-dia das pessoas, especialmente famílias que estavam -- tu sabes, crianças que nasceram e agora estão a ter filhos, também se encontra alguma coisa no corpo deles que não lhes permite viverem uma vida normal por causa da poluição.
Algumas das imagens que eles filmaram quando fizeram o documentário na área da radiação, porque na verdade eu nunca tinha estado lá. A ESPN filmou. Eu queria adquirir todos os vídeos sobre isso, porque é inacreditável aquilo que se pode ver.
Esta grande área, ninguém está -- está completamente deserta. Ninguém está perto desta área.
Toda a gente fugiu. Levaram os passaportes e é tudo. Esse era o único pertence que eles realmente queriam. Sim.

Q: Incrível.
MS: Sim, é realmente incrível.

Q: Prestação sólida hoje.
MS: Sim. Bem, começou lentamente. Eu comecei como se eu não tivesse tomado o meu café, ou alguma coisa do género. Por isso foi decepcionante.
Foi alguém diferente de quem eu joguei contra na segunda ronda, alguém que talvez bata muitas bolas. Esta é uma pessoa que consegue fazer um winner de qualquer parte do campo, e só se tem que estar preparada e tentar que ela jogue mais uma bola.
Quando ela está dentro do jogo, ela pode ser uma das jogadoras mais difíceis com quem jogar. Ela fez muitos erros hoje. Mas, sim, no geral foi sólido. Tive bons jogos de resposta, respondi muito melhor e servi muito melhor no segundo set.

Q: Qual é a importância para ti de ganhar um torneio como este?
MS: Claro que é importante. É óptimo. É mais importante que eu esteja a jogar encontros e que eu esteja aqui a competir.

Q: Podes falar do serviço? Mudaste a postura, certo, um pouco?
MS: Sim, um bocadinho.

Q: Porque é que instituíste isso e o que é que estás a tentar fazer com isso?
MS: Sim, estou apenas a tentar encontrar uma postura confortável para que eu possa criar um pouco mais -- sentir o spin um pouco mais, do primeiro para o segundo serviço e ter mais opções.

Q: Sentes que o serviço em kick te ajuda?
MS: Hum, acho que quando eu costumava ficar -- quero dizer, já tive tantos movimentos, mas a maior parte dos meus movimentos ficava bastante longe, perto da linha paralela à linha de fundo.
Não sei se é a melhor coisa para o ombro, porque tem-se sempre que trabalhar um pouco mais.
Por isso, sim, apenas comecei a ficar um pouco mais alinhada, mas acho que é o mesmo, excepto a postura.

Q: É em função da troca de raquete ou conselho do treinador?
MS: Não, não está relacionado com a raquete de todo. Estou apenas a tentar encontrar o melhor tipo de postura e movimento que me pode ajudar a sentir o spin, um pouco mais.

Q: Obviamente que és uma fã de Basquetebol. Podes comentar ou falar do torneio de Basquetebol da Universidade? Prestaste atenção? Pensamentos sobre os Bruins ou os Trojans, ou és apenas fã do Basquetebol profissional?
MS: Falaste uma língua estrangeira para mim. Posso falar da NBA; Não posso falar de nada mais. Não, na verdade não estou a seguir isso. Peço desculpa. Não sou muito boa com -- é terrível. Já vivo aqui há tanto tempo, mas não acompanho a maior parte dos desportos das Universidades.
Talvez se eu tivesse participado num e tivesse toda essa experiência da Universidade, acho que estaria mais a par. Senti isso um bocado quando estávamos em Oregon, a jogar na exibição da Nike, porque tínhamos o publico universitário que é incrível.

Q: Vão Ducks.
MS: Exactamente. Eu estava-me a habituar a tudo aquilo (risos). Deus não permitiu que eu dissesse algo que fosse contra a equipa deles.
Mas, não, eles tão mesmo dentro disso. Acho que é óptimo haver tanta gente a tirar proveito de um desporto num país, e é realmente grande aqui.

Q: Então dás-nos as tuas previsões na NBA?
MS: Não, eu não sou uma vidente, não publicamente.

Q: Tens tido muitos altos e baixos e boas vitórias e algumas decepções. São as coisas estratégicas que tiveste que aprender ao longo dos anos, ou mais a mudança de pancadas? Podes-me dizer no que é que tiveste que te concentrar mais nestes últimos dois ou três anos?
MS: Hum, não tanto, tecnicamente. Quero dizer, não mudei as minhas pancadas drasticamente. Não mudei, excessivamente. Tive que mudar o meu serviço quando voltei depois de não ter jogado um tempo no inicio, tendo um movimento mais curto. Sim, acho que é um processo. Aprende-se. Quando se está fora por um tempo, volta-se a isso. Eu penso sempre que todos os dias que se perde um treino, fica-se pior porque é como se todos estivessem a treinar, todos a jogar melhor, e tu estás ali sem tentar jogar melhor.
Por isso quando voltei ao campo, aprende-se que se tem apenas que tentar trabalhar o mais depressa possível para entrar no jogo. E quando se está a jogar durante os encontros, aprende-se bastante estando nessa situação.
Uma grande parte disso, é, mentalmente habituar-se às situações e estar quase como em auto piloto, onde quando se joga muitos torneios, muitos encontros, todas as coisas acontecem naturalmente. Os sentimentos, e não estar preocupado em jogar de certa forma, acontece naturalmente.
É difícil de explicar, mas é uma daquelas coisas que acontece automaticamente. Quando não se está a competir, quando se está a treinar ou mesmo a não treinar, perde-se o toque e a sensação. Por isso, demora um tempo. Tu sabes, a perder cedo certamente que não ajuda porque encontras-te novamente no campo a treinar, e depois vais para um encontro. É por isso que eu digo sempre que é importante jogar muitos encontros.

Q: Só para acompanhar essa coisa da Nike, eles fizeram muitos projectos especiais, Hepburn, Red Rhinestone. Se tivesses que escolher uma que fosse a tua roupa favorita, qual seria?
MS: Que eu vesti?

Q: Sim.
MS: Tive alguns favoritos. Mas provavelmente o vestido de noite no US Open.

Q: O preto?
MS: Sim. A senhora que o desenhou era uma grande amiga minha, e esse foi realmente o primeiro vestido que ela ajudou, que seja dentro ou fora da Nike, como um concurso com poucas pessoas.
Por isso foi interessante como tudo funcionou. Ela ajudou a desenhar o vestido, eu usei-o e depois acabei por  ganhar com ele vestido. Por isso, sim foi especial.

Q: Se eu pudesse perguntar, foi falado à cerca da mudança de raquete. Por vezes pode ser uma coisa muito arriscada. Tu ainda não jogaste em muitos torneios, eu não acho.
MS: Não, não muitos.

Q: Podias falar sobre a mudança, como é que isso afectou o teu jogo?
MS: Sim. Não afectou muito. Mas quando eu tive muito tempo para pensar sobre o que talvez eu precisasse de ajuda e em que áreas do meu jogo, eu pensei realmente que uma raquete pudesse ajudar.
Tentei alguns modelos, acho que em Novembro. E, sim, a Head estava a experimentar algumas raquetes naquele momento e estavam prestes a lançar uma nova colecção. Quando eu a escolhi, adorei. Uma das coisas que realmente gostei foi que não me sentia a trabalhar tão arduamente como antes disso. Ajudou-me realmente na corrida e na defesa.
Mas também, quando eu sentia que tinha uma boa bola para bater, não senti que a bola estivesse a voar,  por vezes -- porque por vezes, eu gosto de ser agressiva, e por vezes sente-se isso com pequenas mudanças que o impedem e a bola voa um pouco mais com raquetes eficazes.
Por isso eu tive esse bom equilíbrio de me ajudar na defesa e adicionar um pouco mais de força, mas também  estando realmente estável quando eu tinha boas bolas para bater.

Q: Dinara disse que depois de ter voltado do Australia Open, ela ligou à mãe a dizer que ia retirar-se porque estava muito frustrada ao tentar voltar da lesão e tudo volta a isso. Podes falar das tuas próprias experiências, estando num nível tão baixo e depois tentar ultrapassá-lo?
MS: Sim, como atletas, nós temos muitos altos e baixos nas nossas carreiras. Nós temos momentos em que, ou estamos a voltar de uma lesão ou tivemos derrotas difíceis onde sentimos que o nosso jogo não está lá, e nós tivemos muitas mudanças nas nossas carreiras, quer seja de treinador, quer seja de outras coisas. Obviamente todos passam por coisas diferentes.
Quero dizer, o nosso desporto não é sempre -- nunca se está sempre num nível alto. Passa-se por estes momentos de frustração, perdendo encontros e passando por lesões e lesões que, por vezes, forçam-te a estar fora do jogo por um tempo.
Tem que se estar realmente -- tu sabes, agradecidamente ela tem uma boa equipa à volta dela.
Pode-se dizer que ela é realmente sortuda porque pode ligar à mãe e ouvir a voz dela. Acho que isso é realmente importante, porque os meus pais sempre estiveram lá para mim. Sempre me encorajaram -- sempre me disseram para ser verdadeira com quem eu sou.
Ao final do dia, quando eu estava fora por um longo período de tempo, tem-se sempre muitas perguntas sobre se, tu sabes, se é algo que -- é obviamente um processo longo para voltar. É algo que se quer? É algo que valha a pena, todo o trabalho difícil e os dias e as manhãs?
E sabes que mais? É, porque faz-se desde uma idade muito jovem e compete-se por tanto tempo que é uma chatice quando não se faz mais. É realmente.
Por muito que nós odiemos a rotina de todos os dias acordar cedo e treinar durante horas, quero dizer, há algumas que eu adoro, mas não digo que é uma verdadeira, verdadeira paixão minha.
Eu amo jogar encontros e pontos mais do que outra coisa, mas sim, é difícil. Mas eu penso que todos os atletas passam por isso.

Fonte mariasharapova.com